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Professora de artes visuais no Instituto Estadual de Educação João XXIII- Giruá-RS

domingo, 14 de outubro de 2007

PERPASSANDO OS CAMINHOS DA ARTE CONTEMPORÂNEA

Mardiély S. Copetti Bica ¹.

O que acontece com a arte quando através de suas múltiplas linguagens, ela abandona estilos, materiais, técnicas convencionais e passa a nos perturbar, questionando nossas convicções? Somos empurrados pelas nossas próprias limitações a inquietarmos frente essas novas manifestações artísticas porque a um só tempo perdemos contato com os paradigmas da arte que tínhamos como referência.
Para tentarmos entender a arte em nossos dias precisamos fazer uma abordagem da sua história, como ela foi constituída nesta caminhada.Conhecer e contextualizar a produção artística da humanidade nos permite adentrar no tempo e espaço históricos do homem, descobrindo o seu modo de olhar e interpretar o mundo.
Lembramos que as primeiras manifestações artísticas se deram com o aparecimento do homem primitivo no mundo, o homem fazia arte sem ter noção, era próprio de seu instinto produzir, criar, manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies, movimentos,luzes, etc. com a intenção de dar sentido a algo, de comunicar-se com os outros. Na idade antiga com a arte dos povos mesopotâmicos, egípcios, gregos, romanos, suas principais características eram:obras monumentais, culto pela beleza , dom da técnica. A idade média com a arte gótica, renascimento, barroco, etc. voltada principalmente para a igreja, copia fiel da realidade, retratos.A arte moderna com os seus ismos (impressionismo, cubismo, futurismo, surrealismo, abstracionismo, etc) rupturas com imposições, antiarte, novos materiais até chegar na arte contemporânea com movimentos como pop-art arte ecológica, ciberarte, objeto, performance, instalações, assemblagem, etc; mistura de estilos, materiais e técnicas, invasão dos espaços e a desconstrução de conceitos já estabelecidos e enraizados na nossa cultura.
E hoje nos perguntamos: O que é arte, quem é o artista, quando é arte, como é arte, por que é arte, quem diz que é arte?
A arte hoje está sempre propondo mais problemas que soluções. Uma relação de tensão e desconfiança passou a reger a arte, pela sua condição de ser provocativa.
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O artista quer surpreender, desafiar os hábitos perceptivos das pessoas, tenta formular os mesmos problemas, mas de outra maneira, quer tirar da inércia, fazer pensar, deixar as pessoas inquietas, cheias de perguntas, insatisfeitas, querendo mais.
O contato com a produção artística. , a reflexão sobre ela, a análise contextualizada para nós ainda é algo novo a ser descoberto, pois ela tem poucos anos de história, estamos vivenciando-a, ainda não dispomos de conceitos solidificados como acontece por ex: quando tratamos do renascimento, do romantismo, etc.
. Deterei-me em uma forma de linguagem contemporânea que são as instalações que
são ampliações de ambientes que são transformados em cenários do tamanho de uma sala.
É utilizada a pintura, juntamente com a escultura e outros materiais, para ativar o espaço arquitetônico. O espectador participa da obra, e não somente à aprecia.
“Por que construir um discurso político inócuo quando é possível com uma instalação despertar o espectador de sua letárgica ideológica?” (Ilya kabakov- material ação educativa – 5ª bienal)
As concepções artísticas contemporâneas mexem com nosso modo de ver e com nosso pensamento, pois exige esforço de compreensão tanto cognitivo como sensorial.
Com o projeto: Vivenciando Arte Contemporânea, levei um grupo de alunos do 1º ano do ensino médio na 5ª Bienal do Mercosul (História da arte e do espaço) em Porto Alegre, com o intuito de “educar o olhar”, mais especificamente direcionado para as instalações, pois os alunos tinham vivenciado-as no ambiente escolar.
Os alunos-espectador, segundo Ricardo Basbaum, “uma categoria mais específica, mais aberta ao contato com a obra”(2004.p.17), puderam fruir arte, se deleitar, contemplar e elaborar conhecimentos; questionando-se e muitas vezes indignando-se por não entender essas novas linguagens artísticas. A emoção, a sensação e o pensar que ela provocou em nós são ressonâncias internas que são próprias desta linguagem artística. Entenderam que a arte já não é somente para representar o mundo, mas sim significá-lo. Nem tudo nas artes visuais contemporânea é feito para ser percebido pelos olhos ou para agradar a todos.
Segundo os alunos as instalações que chamaram mais atenção foram: Ilusión de Raquel Schwartz (casa cor de rosa), Sancta Sanctorum de Alejandra Andrade (esculturas de chocolate), Adesivo 44 de Jac Leirner (objetos comuns de consumo), Amanuenses de José Resende (varal de camisas brancas) e muitas outras.
Mas nada deste universo instigante pode ser desvendado se o preconceito contra a arte for maior do que o desejo de conhecer o mundo através destas possibilidades. Neste contexto podemos refletir sobre momentos, materiais e suportes, permanência da obra no tempo, mecanismos criados para que a obra chegue ao público, maneiras como se dá esta fruição. Respondendo estas reflexões estaremos produzindo discursos sobre a arte e fazendo a história da arte contemporânea para gerações futuras.
Acredito que através da educação, ou seja, dos professores, não só de artes, mas de todos aqueles que podem fazer uso criativo desta em sua disciplina, devemos reinventar modos de expressar o pensamento para que estas experiências se prolonguem além destes eventos e se transformem em algo que se repete e seja incorporado aos hábitos dos indivíduos.
Cada vez mais sou levada a crer que o verdadeiro sentido da arte, no mundo atual está na sua democratização e conseqüentemente na sua sociabilização com os outros.
¹ Professora de Artes do Instituto Estadual de Educação João XXIII - Giruá, especialista em Arte Educação